Agência chama criança de Pateta para vender viagem
Renata, 11, combinava com uma amiga viajar em julho para a Disney. Questionada pela mãe, que não sabia de excursão nenhuma, a menina pegou uma pasta com preços do pacote turístico e uma foto em que, ao lado da colega e de um boneco do personagem Mickey Mouse, segurava a placa com os dizeres: "Se eu não for para a Disney vou ser um Pateta".
A pasta foi entregue na escola onde a menina estuda, o Liceu Di Thiene, em São Caetano (Grande São Paulo), no começo do mês passado. Era uma promoção da agência de viagens "Trip&Fun", que organiza viagens de crianças e adolescentes também para Cancún, Bariloche e Costa do Sauipe.
Com a publicidade que já levou o personagem da Disney para dentro de mais de dez escolas, e tira fotos com as crianças segurando plaquinhas como a do Pateta, a agência levará em julho cerca de mil crianças para o parque em Orlando. Os pacotes custam a partir de R$ 5.216, para 13 dias, em quarto quádruplo (o mais barato).
"Quer dizer que você é uma pateta porque você não vai?", perguntou à filha Renata a pedagoga Roberta, 40.
A menina diz que ficou triste. "Queria muito ir. Quase todo mundo da sala vai", conta. Para a mãe, que fala em processar a agência, o sentimento predominante foi a vergonha em relação aos colegas. "Ela ficou claramente constrangida."
A agência e a escola afirmam que não pretendiam constranger ninguém e que a placa do Pateta era apenas uma brincadeira.
O promotor da área do consumidor João Lopes Guimarães Júnior diz que o caso ilustra bem os abusos na publicidade infantil. "De uma turma de cem crianças, 80 vão viajar. As que não vão, porque os pais não querem ou não têm dinheiro, serão chamadas de Pateta. Já temos problemas sério de bullying nas escolas. Essa empresa está criando uma situação propícia para isso. Como se pode falar em preservação da imagem da criança com esse tipo de publicidade?", diz.
Publicidade infantil
Para o promotor, a ação da agência de turismo fere os artigos 15 e 17 do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), que prezam pelo "respeito à dignidade e a inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente".
O Instituto Alana, ONG que trabalha para regulamentar a publicidade infantil, critica as ações em escolas. "Muitas vezes, acontece e o pai nem sabe. É absurdo isso ser feito dentro das escolas", diz Laís Fontene lle Pereira, coordenadora de educação da ONG.
O Conar (conselho de autor regulamentação publicitária) já baniu propagandas por considerá-las desrespeitosas, como uma do ovo de Páscoa Trakinas, de abril de 2008, que dizia: "Quem não dá ovo é um mané".
(Reportagem de Talita Bedinelli)
Estamos, infelizmente, acostumados com os apelos da mídia, e, muitas vezes, não refletimos sobre o que vemos e ouvimos. Assim, acabamos absorvendo tudo com normalidade.
Este exemplo nos mostrou que as 11 escolas esqueceram de refletir sobre questões morais ao aceitarem esse tipo de publicidade. Parece até uma brincadeira, chamar alguém de pateta sendo que existe o personagem pateta e tal, mas não é.
E se fosse com você? A antiga frase que usamos para refletir sobre o bullying ... foi esquecida pelas escolas.
Puxa, e se fosse você que não tivesse dinheiro para ir a disney?
Puxa, e se você não gostasse da Disney?
Puxa, e se seus pais não deixassem você ir para disney?
Ah, claro, você seria um Pateta ... isso para os "metralhas" da publicidade infantil.
Carol!!
Nossa que absurdo! E os pais? Aceitam tudo ... o importante é mostrar que tem grana para pagar tudo, os pais que devem ser chamar de patetas. O blog é muito bom e legal, parabéns!
ResponderExcluirSeu comentário foi bastante plausível com relação a matéria. Considero um absurdo certas publicidas na escola do meu filho. Abraços Paulo.
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